o melhor álbum do ano

Eu tenho amigos muito generosos! O Flávio me presenteou ontem com esse CD do Marcos Amorim, de quem eu nunca tinha ouvido falar. É um bom disco de jazz, com um trio de músicos competentes e inspirados. Mas não foi por isso, claro, que o Flávio lembrou-se de mim. Foi pela capa. A foto, segundo os créditos, é do Beto Amorim e o disco, de 2001.

Esse Ford 49 deve estar em algum lugar de Minas. Têm uma foto dentro do encarte que é de uma igrejinha de pedras, que só pode ser lá, em uma pequena cidade do interior. Quem saberia dizer?

Se bobear, ainda é um tudor ou quem sabe o deslumbrante coupé 49, modelo pelo qual tenho uma queda especial. Eu já me daria por satisfeito só com as pestanas que enfeitam o farol.

Enfim, de muito bom gosto a capa.

Neste Natal, vou caçar mulatas.

O automóvel antigo é minha oportunidade de viver a história. Por quem me apaixonei antes dos motores, também precedidos em meu interesse pela fotografia de época. Assim, do gosto pela história caminhei para o seu registro iconográfico e daí para o automóvel – terreno fértil para ambos. É assim, através de três lentes, ou camadas, que enxergo o automóvel, não me podendo faltar nenhuma delas sob risco de desinteresse.

Pois é assim que me explico o bote que dei sobre os Ford clássicos e por fim acabei comprando o meu 1951. É uma marcha para trás, em direção ao passado sempre mais fértil de referências, curiosidades e segredos. Nesta seara, os acessórios de época para automóveis antigos são um capítulo a parte. São sempre elegantes, austeros, paternais. O Ford ainda quero enfeitar com muitos, ou tantos quanto possa, sem ferir suas identidade, o que é difícil, se não uma contradição.

E eis que, na semana passada, ganhei de presente de três amigos queridos o primeiro destes itens, e seguramente o mais aguardado de todos. Um item que sempre admirei, muito antes mesmo dos carros antigos. Precisava era achar um chassi que comportasse esse apetrecho que por si fala por toda uma época, em que existiam faroletes tocados pelas mãos! Me refiro ao tradicional caça-mulatas que ganhei dos amigos Maurício, Júnior e Marcelo. Um baita presente, sim senhor!

Ainda não deu um Google no fabricante, uma coisa de cada vez. Mas não deve ser difícil achar algo sobre ele. É um tal de Casco Products Corporation, de Bridgeport, Connecticut. Não foi o único com certeza, mas fazia produtos de qualidade. Esse que ganhei ainda têm o cromo original e sabe Deus quando ele foi aplicado ali. E está bem, obrigado. Não vai receber cromo nunca. Vai ser um legítimo NOS para sempre.

Enfim, um bruta presente de natal. Daqueles que, se um dia o carro for embora, fica em casa. Antes disso, pretendo descobrir como instalar essa maravilha no Ford logo após o Natal, quando tiro uns dias de folga. Vai ser muito usado, com certeza.

Aos amigos queridos, muito obrigado. Pro Natal do ano que vêm, caso tenham o mesmo arroubo de generosidade, fica a dica da viseira…

Rio de Janeiro, 1971 – Atualizado 2

Obs: Guilherme mandou duas ou três correções para esta foto, que foi atualizada de novo. Esta é a versão 3.

O amigo Guilherme, que se tu não sabe é o autor do blog Antigos Verde e Amarelo, gentilmente identificou muitos carros desta foto de um depósito do Detran que eu publiquei e comentei aqui neste outro post. Agora o quadro é muito mais completo que antes e, por isso mesmo, mais dramático. Não deve ter existido encontro de carros antigos no Brasil que tenha reunido tantos Mercurys quanto esse lixão aqui. Pena, mas é a vida.

Guilherme, muito obrigado.

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Rio de Janeiro, 1971.

A respeito do comentário do Mário, que me fez pensar numa nuvem de pessimismo sobre o futuro do automóvel antigo no Brasil, resolvi compartilhar esta foto que guardo comigo há dois anos. Foi presente de aniversário, daí o egoísmo. Me perdoe.

A foto, de 1971, foi clicada num terreno mantido pelo Detran aqui no centro da cidade, na Avenida Chile, ao lado da Catedral Metropolitana. No mesmo local, hoje, existe uma escola pública e estacionamento, se não me falha a memória.

Este mesmo lugar, assombrado pela alma de tantos automóveis hoje clássicos que ali encontraram seu réquiem, foi fotografado, dois anos depois, em 1973, pela Life Magazine, conforme dica do Andre Decourt, como já publiquei aqui anteriormente.

Como se vê, dois anos foi suficiente para o Estado do Rio de Janeiro jogar fora toneladas do melhor lixo automotivo que se pode imaginar, e limpar o terreno para – esta a ironia da coisa – dar lugar a mais um estacionamento onde se vê, mais tarde, mais automóveis clássicos, iguais ou assemelhados aos que antes ali estavam abandonados. Como é o caso do Chevrolet 55 que se vê à direita e que eu adoraria saber que fim teve.

Enfim, é uma foto e tanto. Sombria, densa, contrastada na revelação forçada, dá a impressão que aquela montanha de carros estava a sussurrar “socorro… nos tirem daqui… salvem-nos”, mas nenhum de nós chegou a tempo, e eles foram pro lixo mesmo.

Identifiquei alguns carros, quem quiser me ajudar a corrigir as mancadas e identificar os muitos outros, para completarmos o quadro, sinta-se convidado. Lamentavelmente, ali se vêem carros que hoje são disputados em qualquer coleção do mundo. Chevroelts, Pontiacs, Mercurys, Nash, Buicks e até o meu estimado Ford 1949. No lixo.

Sabe, 1971 pode ser lido hoje como o ano em que o descarte dos automóveis importados dos anos 50 alcançou se ápice, seja pelo advento da indústria nacional uma década antes, seja pelo custo de mantê-los de pé, funcionando.

Por este ângulo, podemos admirar cada antigo desta época quase com o mesmo respeito que se deve a um veterano pracinha da FEB, pois eles sobreviveram à pior das batalhas, o seu próprio Monte Castelo, que foi a trágica, rápida e fatal obsolescência dos automóveis clássicos nos anos 70 e 80 no Brasil.

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Abaixo, as duas fotos da Life do mesmo lugar, porém de ângulos diferentes, dois anos depois.

Esta é, amigo, a tal da obsolescência programada que a General Motors inventou, registrada em fotos para provar aos moradores do século XXI a que ponto chegou a cupidez de seus antepassados no século XX. E que nem se fale no preço que o meio ambiente pagou por esta farra toda, afinal, este é um problema nosso, não daqueles que o causaram. Muito menos o assunto primeiro deste blog.

Que o planeta Terra e os automóveis antigos que sobreviveram a esta época tenham melhor sorte daqui por diante. Vamos ver, quem viver verá.

E tire seu antigo da garagem. Bom final de semana pra todos.

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Restorable Classics

Este site relaciona e comercializa sucatas de carros clássicos que estão espalhadas por ferro-velhos da costa oeste americana, com a finalidade de serem compradas e restauradas. Eles têm quase tudo, de Packards a Mustangs, de Hudsons a Kaiser, de Graham Paiges a Buicks. O negócio deles, na verdade, é quase uma reciclagem, se você parar para analisar o estado de destruição em que se encontram os carros, após anos abandonados em pleno deserto. Mas como com dinheiro quase tudo é possível, isso é um negócio e eles inclusvie mostram fotos de carros já restaurados para animar os possíveis compradores. Comprar essas coisas para restaurar é o tipo de pesadelo que me faz acordar no meio da noite transpirando e ofegante. Mas há quem goste. Toc, toc, toc.
O site da Restorable Classics é este aqui. Os preços estão todos lá.

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Chame o Urubu!

É sabido que nenhuma cidade no Brasil têm sua história tão discutida, pesquisada e revirada em blogs e fotoblogs quanto o Rio de Janeiro. Tudo patrocinado por um time de craques interessados em divulgar e construir conhecimento sobre a cidade que amam. Em qualquer um dos seus blogues se pode dar um mergulho no tempo e na intimidade desta cidade. Veja você, então, a última que eles desenterraram, a história do Urubu e Pega Firme!

Quem começou e desenvolveu o assunto foi o Jason em seu Fotolog, complementado pelo Rouen no seu site. Impossível abrir este final de semana com história mais pitoresca e saborosa que esta. Nas palavras do Jason, a história desta personagem tão tipicamente carioca, com sua humildade, alegria e sofrimento, o Urubu:

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“Uma dupla famosa de Copacabana até os anos 80 – Isaias “Urubu” da Silva e seu sedã Mercury 1953, transformado em reboque.

Naqueles tempos pré-celular, Isaias fazia ponto no Bar Igrejinha, da Francisco Otaviano. De lá, saía tremulando bandeirões de Flamengo, Fluminense, Vasco e Botafogo, para resgatar carros enguiçados.

Depois da morte de Urubu, o Mercury ainda resistiu triste e solitário por algum tempo no Posto 6. Depois sumiu. Deve ter sido rebocado para o repouso eterno em algum depósito da Prefeitura (no cadastro do Detran, a placa vermelha VV-8640 ainda está no nome de Isaias!).

Pena… o carrão-personagem devia ter sido tombado pelo Patrimônio e estar estacionado até hoje no Posto 6.”

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Eu não sei em que condições foi publicada, mas o Jason ainda transcreve uma matéria da Revista Quatro Rodas, de 1964, que fala da vida e origens desta pessoa singular, a qual transcrevo abaixo.

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Revista Quatro Rodas, janeiro de 1964.

“Urubu” e “Pega Firme” moram juntos na boléia de um velho caminhão International. O carro tem pneus carecas e há vinte anos, caindo aos pedaços, vive pedindo pintura – e água para o radiador não ferver. Mas, nunca deixou de atender, de dia ou à noite, as chamadas para reboque, ou trabalhos de pequena mecânica. Os fregueses são Cadillacs e Impalas de Copacabana, ante os quais o International forma pitoresco contraste na Zona Sul do Rio.

Isaias da Silva é o prêto de cavanhaque, sempre vestido com o mesmo macacão sujo de graxa, a quem o carioca apelidou de Urubu. É êle o dono do mais engraçado carro-reboque do Rio (…)

E Pega Firme? Não é gente, mas um cãozinho, talvez o único amigo sincero de Urubu. Era um vira-latas branco, a princípio; tempo e graxa o foram tonando cinzento e lhe deram, hoje, uma côr indefinível. Sua missão: montar guarda ao “Soneca”, que não dorme (Soneca é o carro-reboque).

Todo mundo conhece Urubu, seu carro e seu cão. Muita gente já decorou o telefone do bar Igrejinha, em frente à TV-Rio, onde dão recados ao mecânico. (…) “Soneca” atende a uma média de 8 pedidos de socorro por dia e o preço de Urubu vai da cara do freguês. Mas, nunca passou dos 5 mil cruzeiros. Mesmo assim, êle não confirma, nem desmente a história: que estaria rico e já seria dono de um apartamento luxuoso. [continua>>]

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Isaias nasceu em Vila Isabel, berço do samba, o que lhe garante, no carnaval, um lugar certo nos “Decididos de Quintino”. Mas, foi servindo ao Exército que aprendeu mecânica de automóveis. Deixando a farda, foi motorista de lotação, trabalhou em casas especializadas (inclusive com Gino Bianco), mas nunca se sentiu tão satisfeito da vida como agora, que trabalha por conta própria.

Seu primeiro carro foi um “Buick canadense”, que êle comprou para reformar. Trocou-o mais tarde por um Cadillac 1927. Preço dêste carro (em 1950): 10 mil cruzeiros. O International, que é o seu carro atual, custou 40 pacotes (…)

(…) Se lembra da origem do “Pega Firme”. E conta. “De certa feita, deixei o cachorro com um português, dono de um aviário. quando alguém se aproximava das galinhas, o português gritava “Pega firme!” – e o nome ficou.

(…) “Cachorro comigo leva boa vida – conta o mecânico. Come bem, ouve jôgo do Vasco e vai à praia. Agora, estou em falta com Pega Firme, porque o rádio do carro enguiçou. Mas é um rádio caprichoso e um dia desses volta a falar: basta que Soneca lhe dê uns sacolejões a mais”.

Depois disso, o Rouen achou este anúncio do nosso herói e sue fiel cão de guarda, qua vai abaixo. E você, já conhecia a história destes dois?

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Os links para os Fotologs do Jaosn e do Rouen, estão aqui. Aproveito apra agradecer a ambos pelo presente.

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http://www.fotolog.com/jason_1900/35533880

http://www.fotolog.com/jason_1900/35562787

http://www.fotolog.com/jason_1900/35579256

http://www.fotolog.com/jason_1900/35593463

http://fotolog.terra.com.br/bfg1:827

Antique Auto Parts

Este simpático e carismático senhor está há 49 anos no negócio de peças para carros que hoje são antigos. Reuniu milhares de caixas contendo milhões de peças distribuídas por 9 depósitos cheios até o teto e nenhum computador para controlar o estoque, está tudo na cabeça dele. Enfim, o sonho de qualquer apaixonado por carros antigos era conhecer um lugar como esse, no Texas, USA. Ou melhor, era conhecer uma pessoa como essa. Incrível esta reportagem.